Conheça João "Grandão", pivô de 2,27m nascido em 2004
Formado no Praia Clube, João Antônio Rodrigues é um dos prospectos mais intrigantes do Brasil
Minha estreia como comentarista da LDB 2022 foi em uma vitória tranquila do Praia Clube sobre o Brasília. Na segunda metade do último quarto, a equipe da casa liderava por mais de 40 pontos, e o número de "espectadores simultâneos" da transmissão do NBB naturalmente começou a cair. Logo, foram poucos os que viram o momento mais impressionante da partida, na minha opinião.
Faltando quatro minutos para o final do jogo, de repente, bati o olho na tela e senti que havia algo de diferente. Não sei se eu tive, nesses décimos de segundo, a impressão de que os jogadores ficaram menores. Talvez. Mas logo percebi que embaixo da cesta se encontrava João Antônio Rodrigues, pivô mineiro nascido em 2004, com 2,27m de altura.
Eu já conhecia (sabia quem era) o João há algum tempo, desde que ele apareceu no canal do Federados, em entrevista com Michael Oliveira no Brasileiro Sub-14:
Desde aquela época, João "Grandão", como é apelidado, cresceu por volta de 15 centímetros. Por onde passa, o prospecto chama a atenção de todos por conta da sua altura. Ironicamente, o único contexto em que ele tem passado "escondido", quase desapercebido, é no próprio basquete brasileiro.
Chegou a hora de olhar pra cima e colocá-lo no radar.
O pequeno gigante
Nascido em Uberlândia, João Antônio começou cedo no basquete. Foi uma amiga da sua mãe que conseguiu o telefone do André Machado, técnico do Praia Clube, em 2013.
“Fui o primeiro treinador do João quando ele chegou ao Praia, com 9 anos de idade. Ele já tinha uma altura muito acima da média, quase 1,90m. Era muito tímido, tinha muita vergonha por ser alto demais. Ele sempre ficava com a coluna curvada pra para poder conversar com os colegas, e eu sempre corrigindo a postura dele”, lembra André.
Mais que conhecer e se adaptar a um esporte novo, desde essa época João “Grandão” se encontra em um processo constante de conhecimento e adaptação ao próprio corpo.
“Pra tomar banho ele tem que ficar do lado do chuveiro. Pra dormir, é sempre com os pés pra fora da cama. A escola onde ele estudava mandou fazer uma carteira especial pra comportá-lo”, conta o técnico, que treinou o pivô por 4 anos.
Dessa época, João confessa que não sente saudades. “Pela aparência e também pela falta de habilidade. Hoje eu lido melhor com a minha altura”, explicou.
De país em país
Como esperado, a altura do prospecto mineiro lhe abriu portas na Europa. Aos 14 anos, João Antônio viajou até a Espanha para fazer teste no Sevilha. Dois anos depois, medindo 2,13m, fechou com um time da Itália, por onde jogou apenas 3 meses.
A sua última temporada foi nos Estados Unidos. O pivô partiu para a Florida em 2021 e disputou o high school pela Aim High International.
Certamente, esse tempo no exterior, somado à pandemia, tirou João dos holofotes da base do basquete brasileiro. Na offseason americana, ele voltou para Uberlândia para ficar com a família e recebeu o convite para treinar com o time do Praia Clube na LDB 2022.
Ele tem o “touch”
Naquele jogo entre Praia Clube e Brasília, única vez que João entrou em quadra nessa 1ª etapa da LDB, não foi apenas a sua altura que chamou atenção. Após sofrer falta perto da cesta, o pivô foi para a linha de lance livre e mostrou boa mecânica, arremessando de forma natural, limpa.
“A maioria dos jogadores dessa altura tem uma dificuldade de coordenação fina de arremesso. E o João sempre teve a mão boa. É um cara que pode arremessar de longe, tanto de 3 pontos quanto de 2”, disse Cristiano Grama, técnico do time adulto do Praia Clube.
Praticamente da mesma estatura, Tacko Fall, por exemplo, não conseguiu chegar perto de um molde de arremesso convencional.
Desenvolvimento físico
Se por um lado a altura faz de João um jogador único no basquete brasileiro, ela também causa alguns problemas. Para atletas tão altos, o cuidado com o físico é ainda mais importante. Por conta do crescimento desenfreado, o prospecto teve que lidar com algumas complicações logo no início da sua trajetória no basquete.
“O João tinha um problema de joelho valgo, que é quando o joelho é virado pra dentro. Aos 14 anos ele teve que fazer uma cirurgia para colocar um pino na perna”, contou André Machado.
Além das operações para a inserção e retirada do pino, ele também passou por uma incisão na coluna. Seu desenvolvimento físico, o ganho de massa muscular, é imprescindível para a evolução no basquete e também para a saúde de seu corpo. O pivô sabe tão bem disso que estudar sobre o assunto se tornou um passatempo para ele.
“No meu tempo livre eu vejo vídeos de academia, educação física e alimentação, para aprender um pouco mais sobre essa área. Sempre que dá eu estou vendo uma live do Muzy”, disse João, referindo-se ao médico e influencer fitness, Paulo Muzy.
Nessa volta ao Praia, ele conheceu o preparador físico Paulo De Paula, que chegou ao clube em 2022, vindo do Minas. Paulo não esconde que esses quatro meses de trabalho com João se resumem a correr atrás do tempo perdido.
“Ele ainda precisa ser muito trabalhado. Foi muito carente de trabalho físico desde seu início no basquete. Na minha análise, ele teria que ter feito muita coisa antes de chegar à idade que ele está hoje. O meu foco com ele é o desenvolvimento coordenativo, de corrida, postura e desequilíbrio muscular. Não tem segredo, é um trabalho bem básico, que ele teria que ter feito aos 12, 13 anos”, analisa.
Rudy Gobert como referência
É necessário ter paciência com o desenvolvimento de João. Se o arremesso é uma das suas principais características, dentro do garrafão ele ainda está longe de atingir seu enorme potencial. Principalmente para um pivô de 2,27m.
Quando o Praia Clube voltou do lockdown da pandemia, o prospecto passou um bom tempo fazendo treinos específicos com técnico Cristiano Grama.
“Uma das coisas que eu mais foquei com ele foi a proteção de aro. Até mostrei alguns vídeos do Rudy Gobert. A gente fazia muitos treinos em que ele era atacado de diversos ângulos. A ideia não era desenvolver um tempo de toco, mas forçar o jogador a desviar a trajetória. Então ele sempre teria que estar com o braço levantado, para poder forçar o cara a mudar a finalização fácil para uma difícil. Afinal, ele mede 2,27m e com os braços levantados chega a 3,0m”, disse o coach.
Experiência no Corinthians
Antes de se juntar ao Praia Clube para a LDB, João foi convidado para treinar por 3 dias no Corinthians em maio. O pivô deixou boas impressões em um dos principais clubes do Brasil.
“Ele é muito, muito grande. Pode ser um jogador sólido no Brasil, a partir do momento que ele tiver uma preparação física e nutrição adequadas para o que ele precisa. Porque ele tem boa mão, o que é muito difícil de se ter um pivô, para finalizar perto do aro, além de ter uma corrida coordenada”, disse Vitor Galvani, técnico do Corinthians e da Seleção Brasileira Sub-18.
Além dos atributos físicos e as qualidade técnicas já citadas aqui, conversei com atletas do Corinthians que destacaram a personalidade tranquila e humilde de João. Depois dos elogios, o armador João Vitor Martins, o JV, fez questão de adicionar um último detalhe sobre o pivô mineiro:
Pois é, JV. A gente também não.
Será que João volta para os EUA? Permanece no Praia? Fecha com o Corinthians? Ainda não sabemos. Só espero que o seu destino seja a equipe que tenha as melhores condições para desenvolvê-lo.
Fui atleta do praia clube de 2016 a 2018 e tive a oportunidade de conhecer João e treinar com ele, é muito nítido a sua evolução, sem dúvidas será um grande jogador se continuar desenvolvendo em sua posição
Alto pra caramba, mas pelos poucos lances que tem na internet da pra ver que não joga nada ainda. Pode ser bom um dia, pode. Mas tirando o lance livre que acertou não tem nada demais.